Gosto de cozinhar, embora não seja cozinheira. Será isto estranho?
Amo África, embora me digam que estive lá pouco tempo, pouco tempo
para tanto amor, o que é verdade. Isso também parece ser estranho para muita
gente…
Viver em África foi uma época que marcou profundamente toda a
minha vida. Lá me tornei mulher, fui mãe, ri e chorei, venci e perdi. Ao mesmo
tempo, enquanto subia estes degraus, fui aprendendo a amar os seus cheiros, os
seus sons, as cores, os paladares, as gentes.
Acabei por sair de lá há trinta e quatro anos, mas trouxe comigo
essas marcas identificativas da terra amada e que sempre me têm acompanhado.
Tal como a família…
E se os cheiros não posso transmitir, pelo menos a arte de criar
aqueles sabores que me ficaram na memória posso espalhar por onde puder. Aí
está a razão da existência deste livro.
Dizem-me: «Mas só estiveste em Angola!... Como é que te puseste a
escrever sobre os sabores de cinco países de África?».
Nem eu própria sei! No fundo, talvez tenha sentido que os sabores
de um país se entrelaçam, se conjugam, se multiplicam com os sabores dos
outros.
Utilizei uma linguagem simples e directa, de modo a que todas e
todos pudessem entender as receitas e não chegassem ao fim das mesmas sem
compreender o princípio e o meio, sem perceber onde está o sabor a criar.
Apliquei a expressão «quanto baste» (q.b.) para referir as quantidades de
alguns ingredientes, como o sal, a água, o azeite, assim como «a gosto» –
«picante a gosto» –, porque são ingredientes que se devem
utilizar na culinária consoante o gosto de cada um.
Na verdade, uma receita de culinária não é uma ciência exacta, mas
sim uma arte cujo resultado depende ora do gosto do seu autor ora dos
ingredientes que se tem à mão.
Portanto, não se acanhe em alterar ou substituir um ingrediente.
Os povos donde estas receitas são originárias também as modificam de região
para região e conforme os ingredientes de que podem dispor, em cada momento ou
época. Pensando bem, que importa se em vez de galinha é um frango que vai para
a panela?… O importante, sim, é que se sinta feliz com o que faz e o paladar
desejado esteja lá…